20 de outubro de 2011

pouco a pouco

"as cinzas foram acomodadas numa mini-canoa caiçara lançada ao mar em chamas, à maneira viking. flutuou bem e ficou queimando por mais de uma hora, sob uma chuvinha fina, adentrando no mar e na noite."

19 de outubro de 2011

6 de outubro de 2011

senhora pereira

colocou nosso nome num papel na fresta da pedra.
nada de um lamento: muitas bênçãos.
deus dos exércitos? não, não. outro.
o que no princípio era o verbo e é mãe de todos que estamos cansados.

4 de outubro de 2011

no caminho, é...

"Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.

Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos."

(Vinícius de Moraes e Paulo Soledade)

3 de outubro de 2011

um belo horizonte

exercício número um

"o que deus precisa saber

deus precisa saber que eu conto com ele,
que preciso dele,
que confio nele,

que ele pode contar comigo,
que precisa de mim,
que pode confiar em mim,

que não importa para que lado as coisas caminhem,
ele não pode se comportar como um diretor de banco,
como um senhor ministro ou uma miss universo,

que não importa para que lado as coisas caminhem,
eu não posso me comportar como um diretor de banco,
como um senhor ministro ou uma miss universo,

que eu não espero dele que passe o aspirador em todo canto,
que sacuda o pó dos tapetes, que pratique natação
e deixe de fumar,

que ele não espere de mim que eu passe o aspirador em todo canto,
que eu sacuda o pó dos tapetes, que pratique natação
e deixe de fumar,

que ele leve em conta que não é só do bem que vêm as coisas boas
que não queira ser perfeito,
nem queira que o mundo seja perfeito,

que eu levo em conta que não é só do bem que vêm as coisas boas,
e não quero ser perfeito,
nem quero que o mundo seja perfeito,

mas que tudo tem limite,
que ele não acredite que eu o deixarei esquecer
que há coisas irremediáveis,

que tudo tem limite,
que eu não acredito que ele me deixe esquecer
que há coisas irremediáveis,

e afinal se ele é nada para ninguém, com certeza
se deve consigo mesmo
para mim,

e afinal se eu sou nada para ninguém, com certeza
eu me devo comigo mesmo
para ele."

(Peter Kántor)