3 de janeiro de 2018

líquidos, luzes, lentes, escuros.



era um tempo de fotografar, revelar o filme, ampliar.

naquele dia eu tinha pressa, muita pressa.
uma reunião linda de catadores num galpão e até a luz era mágica.
antes de viajar, precisava revelar, selecionar umas fotos, ampliar e entregar.
as fotos já estavam ali, eu sabia.
só faltava a parte manual de enrolar o filme na espiral, meter no pote, líquido um, líquido dois, líquido tres. secador. voilá. depois a luz no papel, outra vez líquido um dois e tres. secar.

entrei no quarto escuro, abri o filme, enrolei na espiral. estranhei por um momento que tudo tivesse sido tão fácil. em geral, na insegurança e no tato a gente sentia se a ponta estava presa no miolo da espiral. e notei que não precisei usar o tato, que dava pra ver que tudo estava perfeitamente encaixado...

nunca mais me esqueci daquelas fotos. da cara das pessoas, da luz, dos pontos de poeira brilhando no galpão sombreado.
também alguns livros. que não li até o fim e permanecem suspensos.
abraços que não foram dados.

há quem diga se fosse colorida seria mais bonita a foto.
há quem diga ponha maiúsculas e mais gente vai ler.
outros: eu, sim, me despedi.

dentro de mim silencio: o imperfeito, o incompleto, o impermanente.
já nem digo: esquecer.

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